segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Marvels - Edição número 3 - Juízo Final (1995)

Em 1994, nos EUA, foi lançada uma minissérie pela Marvel Comics, que quebrou paradigmas por sua excelência: Marvels. Criada pelo roteirista Kurt Busiek e pelo desenhista/pintor Alex Ross, Marvels veio pra sacudir o mundo das HQs. Aqui no Brasil a série foi lançada pela Abril Jovem, detentora na época dos direitos de lançamento das histórias da DC e da Marvel. Vale destacar a qualidade das revistas, com capa especial, espelhada e tudo mais, coisa fina.


A história explora uma premissa muito interessante, de maneira ainda mais genial: os personagens principais na verdade não são os super-heróis, mas sim as pessoas de Nova York (cidade um tanto quanto infestada de heróis,no mundo Marvel), cujas vidas dependem das "Maravilhas" (Marvels, em inglês).

Acima a capa da segunda edição, que enfoca o preconceito contra os mutantes


O cidadão que é focalizado é Phil Sheldon, um fotógrafo freelancer, cuja carreira começa nos anos 40, no começo da Segunda Guerra Mundial, e tinha o sonho de cobrir a Guerra; mas tudo muda quando surgem os primeiros super-heróis: o Tocha Humana Original e Namor, inicialmente. A série, como todas em que Ross trabalha, é cheia de detalhes que apenas fãs com certa bagagem em quadrinhos entenderão, como por ex. na primeira edição, quando Phil vai cobrir uma certa descoberta científica e uma dupla de repórteres que está ao seu lado é igual à Lois Lane e Clark Kent (intencionalmente,claro) da Era de Ouro dos quadrinhos. Outra curiosidade é a presença de ilustres no emio da multidão, como até o ex-presidente americano Richard Nixon, em um dos quadrinhos finais da edição!!


O ponto forte da minissérie é exatamente mostrar quão dependentes dos heróis se tornam os cidadãos, e como a massa pode ser ingrata a esses heróis, como suas atitudes são irregulares, passionais. E como é ser insignificante em um mundo desses.



Mas chega de papo, vamos ao que interessa: a edição número 3, intitulada "O Juízo Final" (capa à esquerda). Nesta edição, o acontecimento do Universo Marvel que é a base da história é a primeira aparição de Galactus na Terra, e a batalha que o Quarteto Fantástico tem que travar contra ele e seu Arauto, o Surfista Prateado. Tudo vai de mal a pior, com sinais do Apocalipse como o céu em chamas e coisas do tipo, até a impressionante força do Surfista, que derrota facilmente o Tocha Humana no primeiro encontro dos dois, nos céus; até o Nulificador Total (arma que apaga para sempre o que ou quem está em sua mira) cair nas mãos do
Sr. Fantástico, e o Quarteto espantar Galactus. Lembrando sempre que Galactus é um dos maiores vilões galácticos da Marvel, e ele sempre traz destruição e desespero onde quer que vá, porque ele se alimenta de planetas. Isso mesmo,planetas.


Primeiramente, não há como não idolatrar Alex Ross depois de ver qualquer coisa que ele faz, mas essa capa é linda demais, meu Deus! Ross fez história por seu estilo foto-realista, e pelo "conservadorismo" quando o assunto é o visual de seus heróis,ou seja, com ele não existe essa história de inovar uniformes e coisas do tipo. E como seu estilo é totalmente realista, Ross por inúmeras vezes se inspira em atores para desenhar os heróis, como o Homem de Ferro, que é ninguém menos que Timothy Dalton (ex-007). Outra característica singular de Ross que vale ser destacada é como o Homem-Aranha é desenhado: com um uniforme não tão lindo de se ver, mas muito real, pois é todo feito de pano, confeccionado à mão mesmo, como a origem do herói nos ensina, diferente de roupas exóticas e vistosas sempre desenhadas por outros e até vistas no filme....afinal, como um garoto de 15, que não tem nem 2 mil dólares para comprar um carro furrega pode comprar neoprene e confeccionar naquilo!?!?!?!?!A arte de Ross já valeria a compra de toda a série, mas é aí que está o diferencial: um Kurt Busiek muito, mas MUITO inspirado.


O mote da série é interessante? Sim. Mas na prática ele melhora ainda mais... Busiek consegue criar por toda a série diálogos memoráveis e situações ainda mais emocionantes, como Phil jogando instintivamente tijolos e pedras nos X-Men, na segunda edição, e como Ciclope consegue destruí-lo moralmente com apenas uma fala: "... não, eles não valem nada", se referindo aos humanos hostis no shopping center.


Mas o auge, para mim, é a edição 3, graças a uma integração quase perfeita entre argumento e arte, como pode ser visto na expressão das pessoas, nas ruas, quando o Quarteto Fantástico vai sendo derrotado várias vezes, e não consegue evitar a tragédia, até o momento do alívio das pessoas quando Galactus desaparece. Mas o quadrinho mais emblemático para mim é quand
o um velho negro, combatente da Segunda Guerra, está acompanhando o desenrolar dos fatos pela rádio ao lado de seus amigos (provavelmente ex-combatentes também), em toda sua ingenuidade, clama: "Encontrem o Capitão América... eu vi o cara lutar uma vez. Ele resolve qualquer parada. QUALQUER uma". Essa frase demostra a esperança, a dependência, a adoração que os homens resgatam em momentos de desespero, em que apenas as maravilhas podem salvá-los. E é essa a alma da série: mostrar como é viver num mundo cheio de heróis e vilões batalhando todos os dias nas ruas, e não ter praticamente nenhum controle sobre isso.


Ao ver inúmeras tentativas fracassadas dos heróis em derrotar Galactus, Phil resolve voltar aos subúrbios, e se juntar à sua família. E nesse percurso ele vê pessoas se juntando e rezando, realmente acreditando que sua hora havia chegado, bêbados lamentando nas ruas, famílias reunidas à espera de um milagre... que finalmente chega. Mas, novamente vemos o dedo de Busiek, que mostra que tudo volta ao normal, com a mídia atacando os heróis, as "ameaças mascaradas", no dia-a-dia, reforçando o ponto do autor: o povo agradece, mas esquece de tudo, sempre...


Toda a minissérie é fantástica, e merece ser conferida de perto, com certeza. A fórmula nas 4 edições sempre é a mesma, com acontecimentos importantes no Universo Marvel, e como Phil e as pessoas próximas a ele (inclusive J.J. Jameson e até Peter Parker!) reagem a isso, sendo meramente humanos em um mundo poderoso e perigoso, onde as rédeas não estão mais em suas mãos. Vale também para se iniciar no mundo de Alex Ross, que também fez a genial "O Reino do Amanhã", abordando agora os heróis do Universo DC em um futuro sombrio. Leitura recomendadíssima: garanto que Marvels vai mudar sua visão de quadrinhos...

sábado, 15 de setembro de 2007

Dylan Dog - Johnny Freak (2001)

A editora Conrad trouxe ao Brasil, no ano de 2001, uma seleta série com um dos personagens mais intrigantes e interessantes dos quadrinhos europeus: Dylan Dog.

Dylan Dog foi criado pelo roteirista Tiziano Scliavi, em outubro de 1986, a pedido da Sergio Bonelli Editore, da Itália. Dylan é também conhecido como o "Detetive do Pesadelo", e desde sua criação angariou fãs de forma progressiva, sendo uma das revistas européias com maior tiragem total, atualmente,beirando a casa de um milhão de exemplares entre edição normal, reedição e por aí vai.






Desde seu nascimento, Dylan encantou leitores de comic books mundo afora pela genial mistura de horror, sexo, aventura e humor que Scliavi escrevia, num ritmo de um filme noir misturado ao Cine Trash, que passava na Bandeirantes muito tempo atrás. Scliavi, como muitos afirmam, conseguiu criar sua "história em quadrinhos autoral" e ao mesmo tempo a tornou imensamente popular, através de tramas bem estruturadas, e com temas que iam desde casos de monstros até histórias que conseguiam comover o leitor.


Scliavi também nunca economizou em referências à cultura pop, que iam desde canções que rolam como som de fundo nas histórias(como Pink Floyd,com "Wish you were here",em uma parte da história Johnny Freak),até o fato de Dylan ter como secretário/assistente de sua agência de investigação ninguém menos que Groucho Marx!


Bem, agora ao que interessa, que é exatamente o que farei neste singelo blog sobre quadrinhos, feito por um leitor não-iniciante mas ainda novato em crítica de quadrinhos: a minha opinião sobre a história focada neste post. Hoje é a história de Dylan Dog intitutlada "Johnny Freak", que foi escolhida pela Conrad para ser a história inicial de sua publicação do personagem por essas bandas, nos idos de 2001 (lá se vão praticamente 6 anos...).




A primeira coisa a ser observada positivamente na HQ é sua capa (à esquerda): desenhada especialmente pelo grande Mike Mignola (mais conhecido como o criador de Hellboy),e digo mais, muito bem desenhada. Toda a série lançada pela Conrad contou com capas feitas por Mignola, de superior qualidade como essa ao lado,diga-se de passagem.


No editorial de introdução ao mundo de Dog, Cassius Medauar ressalta que as histórias escolhidas para figurar essa mini de 6 volumes foram escolhidas pelo próprio Scliavi, como as tramas que melhor poderiam introduzir alguém ao estranho mundo de Dylan. E Scliavi realmente estava certo: Johhny Freak é a melhor história para se conhecer o caráter de personagens como Dylan (muitas vezes aparenta ser um mero detetive que se importa apenas com seu pagamento, mas que é um homem notável)e Groucho (com seu jeito todo falante, e sempre munido das piores piadas do mundo), além do Inspetor Bloch, da Scotland Yard (que vive ajudando Dog, mas é o típico inspetor sempre estressado).


A história é toda em preto-e-branco, o que a torna ainda mais interessante, lapidando de maneira ainda mais eficaz o traço de Andrea Venturi, que se mostra bastante eficiente por todo o contexto da história, humanizando da melhor maneira possível as personagens; principalmente Johnny, com seu jeito um tanto animal, instintivo, mas tocante e sensível ao mesmo tempo. Toda a estrutura da trama é bem montada e "clássica", com a solução do mistério ao fim da edição, fato que não diminui em nada a qualidade da história. Destaques para as inusitadas expressões que não são traduzidas intencionalmente, para situar o leitor nessa Londres chuvosa e bizarra, e suja, com seus Goddamnit's e expressões do tipo, além é claro do famoso "Judas Dançarino!", que Dylan nunca hesita em usar!


Scliavi e Mauro Marcheselli, nesta história, constroem juntos um roteiro que prima pela qualidade não do absurdo e do bizarro, mas sim do humano que não o aparenta ser (o Freak do título), e de pessoas que são normais, aparentemente, mas cometem fatos abomináveis, horrendos, c
ruéis. Os roteiristas conseguem em apenas uma edição inserir o leitor profundamente na personalidade e na alma, essência de Dylan, mostrando seus defeitos e virtudes, com uma maestria somente observada nos quadrinhos italianos, como em histórias de Ken Parker, Martin Mystère e inúmeros outros.


Caso você ainda não tenha percebido, EU com certeza RECOMENDO esse exemplar de Dylan Dog, que ainda é facilmente achado em sebos e lojas especializadas mundo afora...mas se não achar esse especificamente, não perca a oportunidade de ler qualquer exemplar de Dylan Dog, que é uma excelente opção para se iniciar no mundo das HQs italianas, que sempre têm uma qualidade diferenciada das americanas Marvel e DC, além de outras mil por aí. Leia!