terça-feira, 28 de julho de 2009

Guess who's gonna come back


E, para a surpresa de todos (ooh), Steve Rogers vai voltar. Agora a questão não é a volta dos mortos de mais um herói, como já virou praxe nos últimos 20 anos do mainstream das HQs (Marvel e DC, no caso), mas sim: é válida esta banalização da morte de personagens importantes?


ESTE ARTIGO CONTÉM SPOILERS

To voltando, galere!


O conceito de morte nos universos DC e Marvel, desde o fim dos anos 80/começo dos 90 têm sido bastante maleável, pois a morte, em sua esmagadora maioria, não é uma coisa definitiva. E atualmente os leitores de HQs chegaram ao ápice da descrença na morte, quando, ironicamente, chegamos num ponto onde alguns dos heróis mais importantes de ambas editoras morreram recentemente (Steve Rogers e Bruce Wayne).

A morte e a volta dos mortos são artifícios bastante eficazes para atrair mais leitores - a tragédia, principalmente, atrai o público que não acompanha regularmente a série, porque normalmente redefine os rumos de determinado personagem ou universo, tornando mais fácil a compreensão dos futuros acontecimentos para estes novos leitores - desde os anos 80, quando a DC descobriu que não existia nada melhor do que uma "grande-saga-que-vai-mudar-para-sempre-os-rumos-de-todos-envolvidos-mas-calma-lá-que-não-é-bem-assim-comprem-as-revistas-e-vejam-que-nem-tudo-é-tão-preto-no-branco", com "Crise nas Infinitas Terras", de Marv Wolfman e George Pérez. Vale como curiosidade que a DC Comics andava mal das pernas na época da "Crise", e esta macro-saga resolveu muitos problemas da editora: unificou o universo dos heróis da DC (a Família Marvel era de uma Terra diferente da Sociedade da Justiça América, que por sua vez também não estava na Terra da Liga da Justiça, e aí vai), criou a oportunidade para que origens de heróis fossem redefinidas (Superman, Batman, etc.) e deu sobrevida à casa de Superman e cia. Tudo isso ao preço de duas mortes significativas: Supergirl e Flash (Barry Allen, o
original).

O Flash original (Barry Allen) é importantíssimo ao discutirmos a fugacidade da morte nas HQs hoje em dia: até pouco tempo, Allen era o maior ícone para aqueles que acreditavam que a morte podia sim ser definitiva para os super-heróis; entretanto, Allen foi revivido neste ano de 2009 pelo mesmo roteirista responsável por trazer outro grande herói (Hal Jordan) de volta à vida: Geoff Johns. Ao mesmo tempo em que Barry volta, um dos personagens "intocáveis" - Bruce Wayne, a.k.a. Batman - acaba de morrer (não houve promessas de que seria um adeus definitivo, deixemos bem claro). É até irônico falar sobre isso, porque a atual saga-que-envolve-tudo-e-todos da DC trata exatamente sobre isso: a volta dos mortos. Como eu já escrevi anteriormente, Blackest Night traz personagens mortos de volta às luzes, portando seus anéis negros, sedentos por mais e mais mortos (que voltarão à vida, algum dia, claro).

Já na editora rival, a Marvel, quem morreu e vai voltar em breve é ninguém menos que Steve Rogers, o Capitão América original. Também em uma grande saga (Guerra Civil), a morte de Rogers foi o gran finale que os comandados de Joe Quesada armaram para os leitores. Assim, OUTRO personagem que voltou a vida (seu antigo parceiro, Bucky Barnes, que havia se tornado o Soldado Invernal) assume seu manto, e atualmente faz as vezes de Capitão América. Se formos lembrar de personagens que já morreram e voltaram, a lista é gigante: Hal Jordan, Arqueiro Verde, Capitão Átomo, Justiceiro, Magneto... e por aí vai.

"Sinestro, aquele não é o finado Hal Jordan voando?"



A indagação que fazemos ao perceber isso é: como um conceito tão definitivo se torna tão maleável, a ponto de ser banalizado? Não defendo que grandes heróis não devem morrer, muito pelo contrário. Acredito sim que a morte e a ressurreição são artifícios muito válidos para prender a atenção de seu leitor em uma trama, mas quando usados com sabedoria, e sem exageros. Graças a esta banalização da morte, é difícil acreditar que este ou aquele personagem morreu MESMO; quando isso acontece, a atenção dada para esta ou aquela morte diminui, e por consequência o número de leitores, e por aí vai. Do mesmo modo que hoje a necessidade pela morte/ressurreição "surpreendente" deste ou daquele personagem acaba se tornando necessária para qualquer saga importante, e ao se tornar "obrigatória", pode virar um fator complicador na hora do desenvolvimento dos acontecimentos.

Quando será que as grandes editoras vão perceber isso, e parar com essa farra do boi? Difícil saber, mas levando-se em conta que hoje elas são tão dependentes desse artifício, é respirar fundo e... não se surpreender com idas e vindas, claro.

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